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Nanoplásticos podem afetar células cerebrais e do cólon humano

12-01-2024

Cada vez mais presentes no nosso quotidiano, os nanoplásticos podem desencadear respostas inflamatórias no corpo humano, representando um potencial risco para a saúde. As conclusões são de uma investigadora do MARE, que observou respostas inflamatórias em células após a exposição a nanoplásticos, e que alerta para os riscos de desenvolvimento de alergias, doenças autoimunes e até alguns tipos de cancro.

 

Conhecidas como nanoplásticos, estas minúsculas partículas de plástico, que são mais pequenas que os microplásticos, podendo ter dimensões 70 vezes inferiores ao diâmetro de um cabelo, estão entre os principais poluentes do ambiente, especialmente no meio aquático. É graças ao continuado aumento da produção de plástico, ao seu descarte inadequado, à fragmentação de plásticos de maiores dimensões em partículas mais pequenas, e aos seus contaminantes associados que surge a preocupação relativamente aos malefícios que podem trazer à saúde humana.

Joana Antunes, aluna de doutoramento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCT) e investigadora do MARE, no âmbito do projeto Nanoplastox em parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL), demonstrou que estas partículas podem afetar células intestinais e cerebrais. Isto porque os nanoplásticos têm a capacidade de atravessar as membranas celulares do nosso corpo, tornando-se mais fácil a sua ingestão e absorção. Joana Antunes expôs vários tipos de células a nanoplásticos, nomeadamente células do cólon humano e células de microglia de ratinho, que são células do sistema nervoso central com função imunológica, de forma a entender as suas respostas inflamatórias, uma função vital para a defesa do organismo.

A equipa responsável pelo estudo mostrou que os nanoplásticos têm a capacidade de interferir com as membranas recetoras das células intestinais e, consequentemente, ativar processos inflamatórios. A exposição a estas partículas pode levar a alterações na permeabilidade da barreira intestinal, stress oxidativo, neurotoxicidade e perturbações de comportamento, também observadas em estudos anteriores.

A inflamação é uma resposta essencial do sistema imunológico a infeções, lesões ou a agentes estranhos. Quando há uma inflamação descontrolada ou crónica, podem desenvolver-se alergias, doenças autoimunes e, no caso das inflamações no intestino, aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cancerígenas.

O estudo sugere que a exposição a nanoplásticos pode ativar respostas de defesa nas células, nomeadamente respostas inflamatórias que variam dependendo do tipo de célula. Ainda que não acentuada, houve uma resposta das células cerebrais após a exposição. Já as células intestinais aumentaram significativamente a produção de proteínas pré-inflamatórias, após 24 horas em contato com nanoplásticos de dimensões entre 25 a 100 nanómetros, ativando uma resposta de defesa que pode resultar em inflamação.

  • Publicado na revista científica “Environmental Toxicology and Pharmacology”, pode consultar o estudo aqui.

 

O que se segue?

Depois de se verificar que a presença dos nanoplásticos em células intestinais humanas e cerebrais pode causar inflamação, está a ser iniciada uma nova fase de investigação onde serão analisadas misturas destas partículas com outros contaminantes que já existem no ambiente, como por exemplo o benzopireno, um hidrocarboneto (do petróleo) presente no fumo do tabaco.

Será esta mistura mais prejudicial para a saúde humana? A equipa de investigadores do MARE e da FFUL pretende responder a esta questão através da exposição de células intestinais, cerebrais e do fígado (humanas e de peixes) às misturas. É no fígado que ocorrem processos vitais de desintoxicação, por isso a resposta destas células irá fornecer informações importantes para compreendermos melhor a capacidade de defesa do nosso organismo contra estas partículas.

 

Sobre o MARE

O MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente - é um centro de investigação científica, desenvolvimento tecnológico e inovação com competências para o estudo de todos os ecossistemas aquáticos, na vertente continental e no mar. Promove o uso sustentável de recursos e a literacia do oceano disseminando o conhecimento científico e apoiando políticas de desenvolvimento sustentável. Criado em 2015, integra 7 Unidades Regionais de Investigação associadas às seguintes instituições: Universidade de Coimbra (MARE-UCoimbra), Politécnico de Leiria (MARE-Politécnico de Leiria), Universidade de Lisboa (MARE-ULisboa), Universidade Nova de Lisboa (MARE-NOVA), ISPA - Instituto Universitário (MARE-ISPA), Universidade de Évora (MARE-UÉvora) e ARDITI (MARE-Madeira).